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A Senhora Viscondessa

por S. de Magalhaes Lima

Capítulo 25

XXIV

Confidencia

Um dia a sr.^a Felisbella apparecêra de luto na missa da Ajuda, dando o braço direito a um sympathico moço, alto e moreno.

Francisco Alves já não era d'este mundo. A mercearia passára a outro dono.

«E uma vez que tanto lhe devo, sr.^a Felisbella--dizia o desconhecido uma noite--forçoso se me torna narrar-lhe toda a minha vida. Fui pobre, sem recursos. Minha mãe morreu-me nos braços. Coitada! Por amor de mim soffreu e por amor de mim morreu tambem. Eu quiz trabalhar, e não encontrei trabalho. Um dia prenderam-me sem culpa formada. Evadi-me da cadeia. Vagueei incerto até que um honrado camponez me acolheu em sua casa. Amei-lhe a filha, com quem prometti casar. Era uma boa rapariga; chamava-se Cecilia. Envergonhei-me de estar n'aquella casa sem nada fazer. Ella comprehendeu-me. Juntou as suas economias, e atirou-mas ao regaço. Que prodigiosa abnegação, sr.^a Felisbella! E eu que até então me chamava Julio vim para a cidade com este nome supposto. Alguns mezes se passaram. Uma noite--que maldita noite aquella, minha senhora!--fui ao theatro de D. Maria. Olhei para um camarote, e fiquei fascinado com o rosto de uma Viscondessa. Depois vieram as allucinações. Tentei esquecer-me d'ella, mas embalde! Fiz-me seu escudeiro. Apanhado n'um armario, fui despedido por ladrão. Depois, oh! depois, cahi doente. O sr. Alves encontrou-me...

(A sr.^a Felisbella limpou uma lagrima).

... e encontrar-me elle, o mesmo foi que estar eu com a Providencia.

Passou-me a loja--que me deu fortuna, e sobretudo passou-me o seu nobilissimo espirito, que Deus tem em sua santa paz. A sr.^a Felisbella sabe como eu o amei. Se nunca lhe pedi que me tratasse por Julio, e não por José Xavier, foi--Deus me perdoe,--por suspeitar que elle se irritasse contra mim.

E Julio, ajoelhando, beijou as mãos convulsas da sr.^a Felisbella de

Menezes.

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