Aa

Dois CoraçÔes

por AnĂŽnimo

Capitulo 4

Cada família é complicada à sua própria maneira, e a sua também tinha sua própria forma de ser complicada.

Seu avÎ saiu do Japão, com esposa e filhos, e veio para o Brasil fugindo da guerra. Ele não tinha dinheiro para a passagem e nem onde ficar, veio pelo favor e promessa de outras pessoas que ele conhecia hå muito tempo lå do Japão, seus conterrùneos que vieram antes e que conseguiram fazer algum dinheiro com muito trabalho. Os favores envolviam uma pråtica bastante conhecida no país natal. Então, quando as promessas foram feitas, ninguém achou estranho.

Seu tio, o filho mais velho, o exemplo da linhagem, cumpriu as promessas feitas pelo seu avĂŽ e se casou com uma mulher que ele nunca tinha visto na vida, um casamento arranjado. Seu pai, contudo, sempre foi o filho rebelde.

Não ajudou também o fato de ele ter se apaixonado pela sua mãe ainda na escola, desde o primeiro ano do ensino médio. A promessa feita pelo seu avÎ era de que ele se casaria aos 18 anos, mas ninguém imaginou que ele pudesse jå estar casado quando tivesse acabado de completar a maioridade, com uma menina meses mais velha do que ele.

Na época da sua mãe, as escolas antigamente eram muito mais rígidas do que hoje em dia. Era terminantemente proibido meninos ficarem de conversinha com meninas. A escola da sua mãe mesmo, pelo que ela conta, só passou a permitir meninos do colegial em diante, e só em algumas aulas.

EntĂŁo, o jeito que eles tinham para se comunicar era por cartas, deixadas estrategicamente em alguns canteiros de plantas do jardim da escola. Ainda hoje sua mĂŁe tem a cĂłpia de algumas dessas cartas, que seu pai pegou no momento certo e as guardou consigo. A primeira coisa que se vĂȘ quando se abrem as cartas Ă© a caligrafia impecĂĄvel, com as letras exibindo suas curvas perfeitas, sem qualquer tremor, e com as palavras espalhadas pelas linhas de texto de forma uniforme e centralizada. O que hoje em dia Ă© possĂ­vel apenas com o clicar de um botĂŁo, naquela Ă©poca sĂł era possĂ­vel pelo mĂ©todo de escrever, apagar e reescrever atĂ© ficar perfeito.

As palavras das cartas, mesmo para uma menina, expressavam um amor adolescente puro, mas com densidade e sentimento suficiente para sentir que tudo ali tinha vindo do coração, nada era fingimento, era tudo autĂȘntico.

As cartas dele em resposta seu pai fez questĂŁo de queimar, pois nĂŁo se comparavam em beleza Ă s da sua mĂŁe, eram um amontoado de rabiscos feitos por quem ainda nĂŁo tinha o domĂ­nio completo da lĂ­ngua portuguesa e sua forma de escrita corrida, muito diferente da escrita do JapĂŁo. Sua mĂŁe fala que era bobeira dele, que elas eram lindas tambĂ©m, mas nesta vocĂȘ estĂĄ com seu pai, jĂĄ que vocĂȘ sabe que, atĂ© antes de morrer, a caligrafia dele era pĂ©ssima.

Ainda hoje vocĂȘ se pega pensando nessa histĂłria, dois adolescentes, primeiro amor de ambos, seu pai conta para a menina com quem trocava cartas que estava prometido para outra mulher e que o Ășnico jeito de ficarem juntos era se casando quando ele completasse 18 anos, e ela simplesmente diz que sim, que se fosse para ser assim, tudo bem. Que garantias ela tinha de que daria certo? Nenhuma. Mas Ă© que a vida nĂŁo dĂĄ garantias de nada mesmo, nunca deu, mesmo novinha ela sempre soube disso.

Quando seu pai apareceu casado sem ter avisado nada para sua família, foi um escùndalo. Todos culparam o seu avÎ por seu pai ter tido educação mais ocidental do que oriental, e que isso o teria degenerado e afastado dos verdadeiros valores da raça. Mas o verdadeiro escùndalo foi quando, mesmo pressionado por todos, seu pai falou que continuaria casado com sua mãe, e rejeitou a mulher com quem ele estava prometido.

Seu avĂŽ, pela promessa quebrada, perdeu o Ășnico bem que ele tinha conseguido comprar naqueles anos de muito trabalho no Brasil, um sĂ­tio no interior de SĂŁo Paulo. Seu pai, a partir daĂ­, prometeu que iria ajudar seu avĂŽ a reconquistar aquilo que foi perdido e trabalhou incansavelmente junto ao seu avĂŽ desde entĂŁo.

Seu tio, assim que seu pai começou a trabalhar com seu avÎ, se mudou para a cidade e deixou ambos trabalhando sozinhos, disse que ganharia mais dinheiro na cidade e poderia enviar uma parte dos ganhos para seu avÎ, mas isso nunca aconteceu. Pelo contrårio, era seu avÎ que enviava constantemente dinheiro ao seu tio.

Graças ao trabalho de camelo do seu pai, e vocĂȘ se lembra de como ele nunca estava em casa, seu avĂŽ conseguiu prosperar. Por aquela trabalheira toda, seu avĂŽ pagava ao seu pai o mesmo salĂĄrio de todos os outros empregados, mesmo ele trabalhando quase duas vezes. Sua mĂŁe falava que seu avĂŽ sempre disse para eles que o mĂ©rito de toda a riqueza dele era do seu pai, e, no momento certo, vocĂȘs seriam recompensados por todo este trabalho.

Quando seu pai morreu, em grande parte devido Ă  alta carga de trabalho, seu avĂŽ providenciou o enterro e uma pensĂŁo para sua mĂŁe. Mas o valor era tĂŁo baixo que servia apenas para que ela nĂŁo morresse de fome.

Aquilo foi um golpe duro. A partir desse dia, sua mĂŁe nunca mais falou com o avĂŽ ou com a famĂ­lia dele. Dizia que eles nĂŁo se importavam com vocĂȘs e, por isso, vocĂȘs tambĂ©m nĂŁo deveriam se importar com eles. EntĂŁo, ela se mudou para SĂŁo Paulo.

Para sua mĂŁe, a mudança representou um rompimento definitivo. Para vocĂȘ, foi sofrimento. VocĂȘ era pequena, mas ainda se lembra do choque ao sair do interior, onde tudo era vibrante. Cada canto da paisagem trazia uma cor diferente: infinitos tons de verde e vermelho em ĂĄrvores, bichos, frutas. O cheiro do lugar? InconfundĂ­vel. Sua casa ficava ao lado da do seu avĂŽ, e lĂĄ sempre havia um aroma delicioso no ar—bolo de milho, pĂŁo assando, cafĂ© sendo torrado. Ah, o cheiro do cafĂ©... era maravilhoso.

E então veio São Paulo. Uma cidade cinza. Para onde se olhava, só se viam prédios tristes, quadrados, todos iguais. O cheiro? Que cheiro? A cidade não tinha cheiro de nada, apenas fuligem. Até as plantas pareciam desbotadas, cobertas pela poeira dos carros e Înibus. As frutas? Mesmo as mais bonitas do mercado tinham um gosto aguado, artificial, muito diferente da explosão de sabores de uma fruta colhida do pé.

Mas o pior foram as pessoas. No sĂ­tio, vocĂȘ era amiga de todas as crianças, desde as mais pobres atĂ© as filhas dos fazendeiros. Corria pelo chĂŁo de terra, subia nas ĂĄrvores dos vizinhos, e todos te conheciam. Na cidade grande, foi como se vocĂȘ deixasse de existir. No prĂ©dio, na rua, na escola, ninguĂ©m te notava.

Por sorte—ou azar—vocĂȘ conseguiu uma bolsa de 80% em um dos melhores colĂ©gios da cidade. Para mantĂȘ-la, precisava tirar boas notas e nĂŁo se meter em confusĂŁo. Mas por que vocĂȘ estudava quase de graça enquanto outros pagavam uma fortuna? Pois Ă©, talvez para alguns adultos fosse melhor se vocĂȘ nĂŁo existisse mesmo, eles te diziam isso com o olhar, e vocĂȘ percebia, os outros alunos percebiam, os professores tambĂ©m. NĂŁo dĂĄ para afirmar que alguns desses pais nĂŁo tenham passado essa raiva que eles tinham para seus filhos. Pode ser sĂł coincidĂȘncia.

Mas vocĂȘ tinha uma sorte, uma possibilidade Ășnica: vocĂȘ poderia voltar sempre que pudesse para o mundo mĂĄgico do sĂ­tio, onde as cores tinham sabores, os cheiros tinham formas e as pessoas um coração.

Então, durante algum tempo, suas semanas eram: segunda a sexta, aturando a cidade cinza, papel branco, caneta preta, pessoas brancas, de uniforme branco e alma de fantasma; e durante os fins de semana e feriados, o mundo do sítio, de cheiros, cores e diversão com crianças de todas as cores, de todos os jeitos, e com alma de criança.

E isso foi atĂ© vocĂȘ nĂŁo ser mais tĂŁo criança, quando começaram a mudar as brincadeiras, e vocĂȘ percebeu que meninos e meninas eram mais diferentes do que vocĂȘ supunha inicialmente, e foi aĂ­ que começou a ver Carlinhos com outros olhos.

VocĂȘs sempre foram amigos. Ele Ă© filho do administrador da fazenda do seu avĂŽ. Era um menino muito arteiro, de cabelo encaracolado e pele cabocla como a de seus pais. Ele sempre tinha uma histĂłria engraçada para contar, ainda que fosse mentira, sĂł para te fazer sorrir, principalmente quando vocĂȘ acabava de chegar de SĂŁo Paulo. VocĂȘs sempre andavam juntos e com mais um monte de outras crianças, mas sempre juntos. Ele falava que seu dever era protegĂȘ-la, pois um dia vocĂȘ seria a chefe dele, mas ele falava isso sĂł para te fazer sorrir, pois vocĂȘ nunca se imaginou mandando em ninguĂ©m, principalmente em uma criança.

Mas aĂ­ vocĂȘs cresceram e começaram a descobrir que andar apenas vocĂȘs dois era muito mais legal do que andar com outras pessoas, e descobriram mais coisas um do outro, e vocĂȘ descobriu seu primeiro amor e outras coisas pela primeira vez.

Mas, acima de tudo, o sĂ­tio era o lar do seu avĂŽ. Mesmo pequena, sem entender direito a briga entre sua mĂŁe e ele, sempre que vocĂȘ ia para lĂĄ brincava com ele, o seu obaasan, tudo para a fĂșria de sua mĂŁe, que tinha que ir junto, pois vocĂȘ era sĂł uma criança.

Mesmo quando vocĂȘ cresceu, jĂĄ sabendo o motivo da briga deles, vocĂȘ nunca conseguiu ter raiva daquele velhinho japonĂȘs, carequinha, encurvado e de barriga e coração largos, que era seu avĂŽ, entĂŁo nunca deixou de manter contato com ele. Quando vocĂȘ ficou mais velha para entender, lembra que ele sempre repetia: "sua mĂŁe nĂŁo entende, mas estou deixando o bolo crescer. Assim que ele ficar grande, vai ser todo de vocĂȘs, seu e de sua mĂŁe. Se eu cortar ele agora, ninguĂ©m ganha nada."

Sua mãe sempre foi muito cética em relação a isso, ela falava que meu avÎ tinha ficado estranho desde que sua avó faleceu e ele não falava coisa com coisa, que tudo o que ele tinha os empregados roubavam sem ele perceber, então ela nunca acreditou que, de fato, fosse receber alguma coisa.

Talvez o Ășltimo contato que vocĂȘ tenha tido com seu avĂŽ tenha sido na semana passada. Ele tinha ficado feliz por saber que vocĂȘ tinha ido bem em vĂĄrias entrevistas de emprego e vocĂȘs tinham combinado do Francisco passar o fim de semana lĂĄ. Mas isso foi antes de ele ter ficado doente, e, agora, aquela notĂ­cia.

É sempre complicado decidir se vai se levar uma criança para o velĂłrio de um ente querido ou nĂŁo. VocĂȘ nĂŁo teve a oportunidade de se despedir de seus outros avĂłs, entĂŁo acha que talvez o passeio no interior faça bem ao Francisco, ele jĂĄ estava pedindo para ir para o sĂ­tio mesmo, melhor ir agora, jĂĄ que nĂŁo se sabe o que acontecerĂĄ do sĂ­tio daqui para frente.

As trĂȘs horas de viagem de carro atĂ© o sĂ­tio passam como um instante, uma viagem de recordaçÔes e nostalgia do seu avĂŽ, que seus amigos do sĂ­tio chamavam de senhor Miyagui, por causa do ator Pat Morita do filme KaratĂȘ Kid. Nem sua mĂŁe, de temperamento ressentido com ele, escapou de lembrar momentos engraçados ao lado dele, na Ă©poca em que a famĂ­lia inteira ainda vivia no interior e eram todos vizinhos de porta.

Uma coisa boa do escritĂłrio novo Ă© que eles entenderam perfeitamente quando vocĂȘ disse que precisava viajar imediatamente. AtĂ© mesmo o Dr. Tiago, que tinha brigado com vocĂȘ ontem por nada, entendeu e aceitou tudo na mesma hora. Era bom trabalhar com pessoas de bom senso.

Quando vocĂȘs chegaram, foram diretamente ao velĂłrio, que jĂĄ estava todo pronto, com praticamente a cidade inteira lĂĄ, alĂ©m, Ă© claro, dos forasteiros: seu tio e seus primos.

Nossa, fazia muito tempo que vocĂȘ nĂŁo os via, talvez mais de cinco anos, eles nem conheciam o Francisco. É tĂŁo triste uma famĂ­lia ter que se reencontrar apenas nestas horas.

VocĂȘ aguardou apenas mais algumas horas no velĂłrio, em que recebeu condolĂȘncias de todos os empregados do seu avĂŽ e dos vizinhos, que falaram o quanto ele era bom com todos. Sua mĂŁe ao seu lado, com olhos de quem nĂŁo acreditava naquilo que eles diziam e de quem jĂĄ se arrependia de ter ido; e logo depois, iniciou o procedimento para o enterro do seu avĂŽ, com seu tio segurando Ă  frente e Ă  direita do suporte que levava o corpo do seu avĂŽ, o administrador da fazenda ocupou o lado esquerdo, e assim os demais conhecidos, amigos e funcionĂĄrios de confiança dele.

Quando a cerimĂŽnia acabou, seu primo com quem vocĂȘ mais mantinha contato daquela famĂ­lia veio falar com vocĂȘ:

— Ju, o advogado do avî falou que todo mundo pode dormir na casa dele hoje, porque tem espaço, e porque ele precisa de todo mundo lá para ler o testamento do avî, assim que sair uma papelada do cartório. Ele acha que lá para as 18:00 vai estar tudo pronto para leitura.

— Tá bom, vamos sair só amanhã mesmo.

— Tudo bem. Meus pĂȘsames, sei que vocĂȘ era prĂłxima dele.

—Obrigada, primo.

Deu o horårio combinado e chegou o advogado, todos jå a postos na sala. Ele iniciou o testamento falando que seu avÎ poderia escolher livremente para quem iria 50% dos bens dele. O restante, necessariamente, deveria ser partilhado em dois, 25% para sua mãe e 25% para o seu tio. Ele falou que ultimamente seu avÎ estava tendo problemas de produção e que, por isso, ele tinha vårias dívidas com bancos, que precisavam ser pagas antes da distribuição da herança. Além disso, ele tinha feito contratos futuros com uma empresa e, como a produção não se concretizou, grande parte do seu patrimÎnio havia ido para esta empresa para pagar os valores que ela havia antecipado, mas, mesmo assim, seu avÎ havia reservado algumas partes especiais para os netos, e ele começou a ler:

— Para os meus netos JĂșlio, Enzo e Nicolas, filhos do meu filho mais velho, deixo, em dinheiro, o valor de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) para cada um.

Uau, vocĂȘ pensou, aquele valor nĂŁo tornava ninguĂ©m rico, mas que dava para pagar umas contas, hĂĄ isso dava.

O advogado ainda pediu, no meio da leitura, que todos se manifestassem de forma clara se aceitavam o testamento, para que todos estivessem de prova. E continuou:

— Para minha neta Juliana, filha do meu filho prĂ©-morto, deixo minha D20 e tudo o que ela contĂ©m. Peço agora que todos manifestem sua aceitação expressa nesse momento.

VocĂȘ nĂŁo sabia o que era D20, deveria ser uma aplicação financeira. VocĂȘ jĂĄ tinha ouvido falar em aplicaçÔes financeiras D+1, D+5, D20, deveria ser uma delas. EntĂŁo, todos, em unĂ­ssono, manifestaram concordĂąncia.

VocĂȘ, talvez, deveria ter pesquisado primeiro o que era ao ver que todos estavam te olhando com cara de espanto para saber se vocĂȘ aceitaria. Mas foi vontade do seu avĂŽ, lĂłgico que vocĂȘ nĂŁo iria falar nada contra, entĂŁo vocĂȘ falou que sim.

Assim que vocĂȘ fala sim, o advogado continuou lendo o testamento, e vocĂȘ procurou na internet o que era D20, atĂ© que uma imagem pulou no seu celular:

Assim que vocĂȘ fala sim, o advogado continuou lendo o testamento, e vocĂȘ procurou na internet o que era D20, atĂ© que uma imagem pulou no seu celular.

Seu coração apertou.

Caramba, era o carro dele, a mesma cor.

VocĂȘ falou para ele vĂĄrias vezes, quando criança, que adorava aquele carro. Ele te deixava alta, logo vocĂȘ que nunca foi alta. AlĂ©m disso, como ele nĂŁo tinha banco atrĂĄs, vocĂȘ poderia ir na frente. Era o Ășnico carro que vocĂȘ poderia ir na frente, como uma adulta, e ele lembrou disso.

As lågrimas vieram de novo. Seus primos devem ter pensado que era pela diferença de valor. Mas não era.

Era pelo gesto.

O advogado se aproximou e lhe entregou uma carta.

— Seu avĂŽ deixou isso para vocĂȘ. Estava guardada hĂĄ cinco anos no meu escritĂłrio.

Era demais. VocĂȘ chorou novamente. AtĂ© que vocĂȘ cruza os olhos com Carlinhos, que estava no canto da sala. VocĂȘ percebe que ele cresceu, faz anos que vocĂȘ nĂŁo o via.

E entĂŁo ele sai de perto do seu pai, vai atĂ© o seu lado, e segura sua mĂŁo. Ele nĂŁo fala nada, apenas segura sua mĂŁo, e aquilo Ă© tudo o que vocĂȘ precisa para continuar a ouvir o testamento.

O que vocĂȘ achou desta histĂłria?

4.0 (10 avaliaçÔes)

VocĂȘ precisa entrar para avaliar.

VocĂȘ tambĂ©m pode gostar