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A Senhora Viscondessa

por S. de Magalhaes Lima

Capítulo 26

XXV

Mais confidencias

Para muito se amar, quer-se silencio e solidão--dizia Balzac.

O amor é por natureza melancholico. Quem ama, soffre. A melancholia não é uma doença physica, é apenas uma enfermidade moral.

Uma cousa é a tristesa, outra cousa é a melancholia: a primeira parte da intelligencia e é, por via de regra, filha de intimas preoccupações; a segunda origina-se no coração, e nasce de um sentimento, que só por meio da pallidez do rosto exteriormente se manifesta. A velhice é quasi sempre melancholica.

Entre a melancholia e a saudade existe uma profunda analogia: ambas se concentram e ambas se alimentam no mesmo ideal, no amor.

A sr.^a Felisbella de Menezes, nos seus dias de vagar, sentava-se á janella, e apoiando o queixo sobre as mãos, olhava vagamente as montanhas, os rios e o céu.

Atravez a nuvem que passa e a estrella que scintilla e a lua que enbranquece, existe sempre uma doce esperança infinita, ethérea, incommensuravel, que nos é como que o acordar de um sonho de primavera.

Esperar é desesperar--diz o rifão. E entretanto todos esperam; porque a esperança é o futuro, o glorioso amanhã da humanidade que soffre.

Para a mulher não existe o passado. Que importa o amor, que hontem se finou com a ingratidão de um amante?

Deixae-nos correr um véu sobre as alegrias de hontem. Deixae-nos esquecer, fingindo ignorancia e despreso.

O presente é um logogripho, que ninguem decifra. Se agora somos felizes, quem nos diz, todavia, que essa felicidade se ha de prolongar, tornando-se eterna e duradoura?

Ao passo que a curiosidade nos estimula o espirito em differentes direcções, a esperança, pelo contrario, apenas nos incita na direcção de uma linha recta, cuja extensão é o infinito, vagamente illuminado pelo sol do futuro.

Oh! o futuro é a dourada cadeia, que põe directamente a terra em communicação com o céu; o futuro, o que ha de vir, é sempre um orvalho, que dulcifica os amargores da desventura.

Perguntae ao desgraçado que força occulta e mysteriosa o prende ainda a este mundo de miserias.

Perguntae ao sabio porque estuda, e ao operario porque trabalha, e á mãe porque ama, e ao filho porque obedece.

A esperança, para espiritos bem-formados, não é simplesmente uma suave illusão, mas ainda mais uma verdadeira necessidade da nossa existencia.

Esperar é trabalhar com ardôr, viver com fé, existir com crença e amizade.

De todas as virtudes sociaes a primeira inquestionavelmente é a esperança.

O homem, de ordinario, procura a felicidade; a mulher espera-a. Por isso a condição da mulher, embora mais triste e desconsolada que a do homem, não deixa ainda assim de ser suavemente acariciada pelo balsamo do céu.

Ser feliz é saber esperar,

Julio adquirira em pouco tempo esta sciencia da vida, graças aos bons conselhos da sr.^a Felisbella de Menezes.

Crêr, esperar e amar--taes são as tres joias preciosas, sem as quaes a educação se tornaria esteril e inutil.

Sem crença não póde existir a sublime dedicação de esposa nem a adoravel abnegação da mãe.

Sem amor, impossivel seria a vida da mulher, cuja missão é christãmente consoladora e amiga.

Mulheres, que viveis na desgraça, se quereis ser felizes--acreditae no santo amor de um filho, esperae de Deus a crença na maternidade, e vivei na intima e doce consolação de vossos maridos.

A familia é amparo da misaria e arrimo dos que soffrem.

Felizes os que sabem cumprir sobre a terra a primeira e a mais indiscutivel lei da natureza!

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