Capítulo 42
XLI
Sorrisos e lagrimas --Acredita-me, Mabilia: esta felicidade para nós é inalteravel. Deixa que o mundo murmure no seu louco e estupido egoismo. Nada importa! A openião das maiorias é, em quanto a mim, uma vil e dolorosa mentira.
Tendo-te a ti, que mais poderei eu ambicionar? Desafio os rios e os mares para que venham arrebatar-me do coração a tua terna e doce imagem.
Que venham! E eu, impavido, arrostarei com elles, braço a braço, se tanto fôr preciso.
--Oh! Julio, meu bom amigo, por Deus, não sejas mentiroso; não digas aquillo que não sentes; se devéras me não amas, para que fallar em tal?
Olha que a experiencia, meu amigo, tem-me sido uma triste e dolorosa desillusão n'esta vida...
--E és tu quem assim falla? Mas não vês, desgraçada, que essas palavras me fazem escaldar o coração? Oh! por piedade, não me mates, Mabilia:
N'este comenos Virginia entrou na saleta. Interrompido o dialogo, o nosso barão tomou, ao acaso, um jornal, que ligeiramente passou pela vista.
Antes, porém, de o pousar, estacou em uma das locaes, e leu o seguinte: «Falleceu hontem no hospital de S. José, victima de uma phthisica pulmonar, uma pobre rapariga, por nome Cecilia da Silva. Parece que uns amores mal correspondidos foram a causa de similhante infortunio. Por se ignorar o nome do pae, que se suppõe viver na aldeia, foi o seu cadaver sepultado no cemiterio dos Prazeres, com uma simples inscripção, gravada n'uma pequena cruz de madeira.» --Se me não engano já vi algures esta mulher!--regougou o barão, repoltreando-se na cadeira, e lançando do seu excellente charuto havano uma longa e deliciosa bafurada de fumo.