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O Maravilhoso Mágico de Oz

por L. Frank Baum

O Encontro com os Munchkins

Ela despertou com um solavanco, tão repentino e forte que, se Dorothy não estivesse deitada na cama macia, teria se machucado feio. O impacto fê-la prender a respiração, curiosa sobre o que acontecera; Totó enfiou o focinho gelado em seu rosto, num ganido aflito. Dorothy sentou-se e notou que a casa não se movia; tampouco estava escuro, pois o sol brilhante entrava pela janela, inundando o pequeno quarto. Saltou da cama e, com Totó a seus calcanhares, correu para abrir a porta.

A menina soltou um grito de espanto e olhou ao redor, os olhos se arregalando diante das paisagens maravilhosas.

O ciclone depositara a casa no chão com delicadeza – para um ciclone, pelo menos – no meio de uma terra de beleza estonteante. Viçosa relva se estendia por todos os lados, ladeada por árvores imponentes carregadas de frutos suculentos. Canteiros de flores magníficas explodiam em cores, e pássaros de plumagem rara e brilhante cantavam e esvoaçavam entre as árvores e os arbustos. Um pouco adiante, um riacho serpenteava, correndo e cintilando ao longo de margens verdejantes, murmurando em uma voz melodiosa, um deleite para uma menina que vivera tanto tempo nas pradarias secas e acinzentadas.

Enquanto contemplava, ávida, as paisagens estranhas e belíssimas, notou um grupo de pessoas esquisitas se aproximando. Não eram tão altas quanto os adultos que conhecia, mas também não eram exatamente pequenas. Na verdade, pareciam ter quase a altura de Dorothy, que era uma criança bem desenvolvida para a idade, embora aparentassem ser bem mais velhas.

Três eram homens e uma era mulher, e todos trajavam roupas peculiares. Usavam chapéus redondos que se elevavam em uma ponta a uns trinta centímetros acima de suas cabeças, adornados com pequenos sinos ao redor das abas, que tilintavam suavemente a cada movimento. Os chapéus dos homens eram azuis; o chapéu da pequena mulher era branco, e ela vestia um vestido branco que caía em pregas a partir dos ombros. Pequenas estrelas salpicavam o tecido, brilhando ao sol como diamantes. Os homens vestiam azul, no mesmo tom de seus chapéus, e calçavam botas lustrosas com uma dobra azul pronunciada no topo. Dorothy pensou que os homens teriam quase a idade do tio Henry, pois dois deles ostentavam barba. Mas a pequena mulher era, sem dúvida, muito mais velha. O rosto era sulcado por rugas, os cabelos quase brancos, e ela andava meio rígida.

Quando essas pessoas se aproximaram da casa onde Dorothy estava parada à porta, pararam e cochicharam entre si, como se temessem se aproximar mais. Mas a pequena velha caminhou até Dorothy, fez uma reverência e disse, com uma voz doce:

— Seja bem-vinda, nobre Feiticeira, à terra dos Munchkins. Somos muito gratos a você por ter matado a Bruxa Má do Leste e por ter libertado nosso povo da escravidão.

Dorothy ouviu este discurso com espanto. O que a pequena mulher queria dizer ao chamá-la de feiticeira e dizer que ela havia matado a Bruxa Má do Leste? Dorothy era uma garotinha inocente e inofensiva, que havia sido levada por um ciclone a muitos quilômetros de casa; e nunca havia matado nada em toda a sua vida.

Mas a pequena mulher evidentemente esperava uma resposta, então Dorothy disse, hesitante:

— A senhora é muito gentil, mas deve haver algum engano. Eu não matei nada.

— Sua casa matou, de qualquer forma — respondeu a pequena velha, com uma risada —, e isso é a mesma coisa. Veja! — continuou, apontando para o canto da casa. — Lá estão os pés dela, ainda saindo de baixo de um bloco de madeira.

Dorothy olhou e soltou um gritinho de susto. Lá, de fato, logo abaixo do canto da grande viga sobre a qual a casa repousava, dois pés estavam à mostra, calçados com sapatos de prata de bicos pontudos.

— Oh, céus! Oh, céus! — exclamou Dorothy, juntando as mãos em consternação. — A casa deve ter caído em cima dela! O que vamos fazer?

— Não há nada a ser feito — disse a pequena mulher calmamente.

— Mas quem era ela? — perguntou Dorothy.

— Era a Bruxa Má do Leste, como eu disse — respondeu a pequena mulher. — Ela manteve todos os Munchkins em cativeiro por muitos anos, obrigando-os a trabalhar como escravos para ela noite e dia. Agora todos estão libertos e são gratos a você pelo favor.

— Quem são os Munchkins? — perguntou Dorothy.

— São as pessoas que vivem nesta terra do Leste, onde a Bruxa Má governava.

— A senhora é uma Munchkin? — perguntou Dorothy.

— Não, mas sou amiga deles, embora eu viva na terra do Norte. Quando viram que a Bruxa do Leste estava morta, os Munchkins enviaram um mensageiro rápido até mim, e eu vim imediatamente. Eu sou a Bruxa do Norte.

— Oh, meu Deus! — exclamou Dorothy. — A senhora é uma bruxa de verdade?

— Sim, de fato — respondeu a pequena mulher. — Mas eu sou uma boa bruxa, e as pessoas me amam. Eu não sou tão poderosa quanto a Bruxa Má que governava aqui, ou eu mesma teria libertado o povo.

— Mas eu pensava que todas as bruxas eram más — disse a menina, um tanto assustada por estar diante de uma bruxa de verdade.

— Oh, não, isso é um grande engano. Havia apenas quatro bruxas em toda a Terra de Oz, e duas delas, as que vivem no Norte e no Sul, são boas bruxas. Eu sei que isso é verdade, pois sou uma delas e não posso estar enganada. Aquelas que habitavam o Leste e o Oeste eram, de fato, bruxas más; mas agora que você matou uma delas, há apenas uma Bruxa Má em toda a Terra de Oz – aquela que vive no Oeste.

— Mas — disse Dorothy, após um momento de reflexão —, a tia Em me disse que todas as bruxas estavam mortas… há anos e anos.

— Quem é a tia Em? — perguntou a pequena velha.

— Ela é minha tia que mora no Kansas, de onde eu vim.

A Bruxa do Norte pareceu pensar por um instante, a cabeça baixa e os olhos fixos no chão. Então ergueu os olhos e disse:

— Eu não sei onde fica o Kansas, pois nunca ouvi falar desse país antes. Mas me diga, é um país civilizado?

— Oh, sim — respondeu Dorothy.

— Então isso explica tudo. Nos países civilizados, acredito que não restam bruxas, nem feiticeiros, nem magas, nem mágicos. Mas, veja, a Terra de Oz nunca foi civilizada, pois estamos isolados de todo o resto do mundo. Portanto, ainda temos bruxas e feiticeiros entre nós.

— Quem são os feiticeiros? — perguntou Dorothy.

— Oz é o Grande Mágico — respondeu a Bruxa, baixando a voz para um sussurro. — Ele é mais poderoso do que todos nós juntos. Ele vive na Cidade das Esmeraldas.

Dorothy ia fazer outra pergunta, mas naquele momento os Munchkins, que estavam parados em silêncio, soltaram um grito alto e apontaram para o canto da casa onde a Bruxa Má estava deitada.

— O que foi? — perguntou a pequena velha. Olhou e começou a rir. Os pés da Bruxa morta haviam desaparecido completamente, e nada restava além dos sapatos de prata.

— Ela era tão velha — explicou a Bruxa do Norte —, que secou rapidamente ao sol. Esse é o fim dela. Mas os sapatos de prata são seus, e você os terá para usar. — Abaixou-se, pegou os sapatos e, depois de sacudir a poeira, entregou-os a Dorothy.

— A Bruxa do Leste se orgulhava desses sapatos de prata — disse um dos Munchkins —, e há algum encanto ligado a eles; mas o que é, nunca soubemos.

Dorothy levou os sapatos para dentro de casa e os colocou sobre a mesa. Então saiu novamente para os Munchkins e disse:

— Estou ansiosa para voltar para meus tios, pois tenho certeza de que estão muito preocupados comigo. Vocês podem me ajudar a encontrar o caminho?

Os Munchkins e a Bruxa primeiro olharam uns para os outros, depois para Dorothy e, em seguida, balançaram a cabeça.

— No Leste, não muito longe daqui — disse um —, há um grande deserto, e ninguém conseguiria sobreviver para atravessá-lo.

— É o mesmo no Sul — disse outro —, pois eu estive lá e vi. O Sul é o país dos Quadlings.

— Disseram-me — disse o terceiro homem — que é o mesmo no Oeste. E aquele país, onde os Winkies vivem, é governado pela Bruxa Má do Oeste, que a transformaria em sua escrava se cruzasse seu caminho.

— O Norte é minha casa — disse a velha —, e em sua extremidade está o mesmo grande deserto que circunda esta Terra de Oz. Receio, minha querida, que terá que morar conosco.

Dorothy começou a soluçar, pois se sentia sozinha entre todas aquelas pessoas estranhas. Suas lágrimas pareceram entristecer os bondosos Munchkins, pois eles imediatamente pegaram seus lenços e começaram a chorar também. Quanto à pequena velha, tirou o chapéu e equilibrou a ponta na ponta do nariz, enquanto contava “Um, dois, três” em voz solene. Imediatamente o chapéu se transformou em uma ardósia, na qual estava escrito em grandes marcas de giz branco:

“DEIXE DOROTHY IR PARA A CIDADE DAS ESMERALDAS”

A pequena velha tirou a ardósia do nariz e, tendo lido as palavras nela, perguntou:

— Seu nome é Dorothy, minha querida?

— Sim — respondeu a criança, erguendo os olhos e enxugando as lágrimas.

— Então você deve ir para a Cidade das Esmeraldas. Talvez Oz a ajude.

— Onde fica essa cidade? — perguntou Dorothy.

— Fica exatamente no centro do país e é governada por Oz, o Grande Mágico de quem lhe falei.

— Ele é um bom homem? — perguntou a menina ansiosamente.

— Ele é um bom Mágico. Se é um homem ou não, não posso dizer, pois nunca o vi.

— Como posso chegar lá? — perguntou Dorothy.

— Você deve caminhar. É uma longa jornada, por um país que às vezes é agradável e às vezes escuro e terrível. No entanto, usarei todas as artes mágicas que conheço para protegê-la de qualquer dano.

— A senhora não vai comigo? — implorou a menina, que havia começado a ver a pequena velha como sua única amiga.

— Não, não posso fazer isso — respondeu ela —, mas darei meu beijo, e ninguém se atreverá a ferir uma pessoa que foi beijada pela Bruxa do Norte.

Ela se aproximou de Dorothy e a beijou suavemente na testa. Onde seus lábios tocaram a menina, deixaram uma marca redonda e brilhante, como Dorothy descobriu logo depois.

— A estrada para a Cidade das Esmeraldas é pavimentada com tijolos amarelos — disse a Bruxa —, então você não pode se perder. Quando chegar a Oz, não tenha medo dele, mas conte sua história e peça-lhe para ajudá-la. Adeus, minha querida.

Os três Munchkins fizeram uma profunda reverência a ela e lhe desejaram uma jornada agradável, após o que se afastaram por entre as árvores. A Bruxa deu a Dorothy um pequeno aceno amigável, girou sobre o calcanhar esquerdo três vezes e desapareceu imediatamente, para grande surpresa do pequeno Totó, que latiu alto quando ela se foi, porque ele teve medo até mesmo de rosnar enquanto ela estava por perto.

Mas Dorothy, sabendo que ela era uma bruxa, esperava que desaparecesse exatamente dessa maneira, e não ficou nem um pouco surpresa.

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