Capítulo 3 - Parte 2
Immediatamente me pareceu que uma tocha fumegante penetrára na tenda, esparzindo um brilho d'ouro... Ergui-me, assustado. N'um largo raio de sol, vindo dos montes de Moab, o jocundo Potte entrava, em mangas de camisa, com as minhas botas na mão!
Arrojei a manta, arredei os cabellos, para verificar melhor a mudança terrivel que desde a vespera se fizera no Universo! Sobre a mesa jaziam as garrafas do champagne com que brindaramos á Sciencia e á Religião.
O embrulho da Corôa d'Espinhos pousava á minha cabeceira. Topsius, no seu catre, em camisola e com um lenço amarrado na testa, bocejava, pondo os oculos de ouro no bico. E o risonho Potte, censurando a nossa preguiça, queria saber se appeteciamos n'essa manhã--«tapioca ou café».
Deixei sahir deliciosamente do peito um ruidoso, consolado suspiro. E no jubilo triumphal de me sentir reentrado na minha individualidade e no meu seculo pulei sobre o colxão, com a fralda ao vento, bradei: --Tapioca, meu Potte! Uma tapioca bem docinha e mollesinha, que saiba bem ao meu Portugal!...