Capitulo 5
EntĂŁo vocĂȘ finalmente acorda pela manhĂŁ, vocĂȘ nem sabe que horas conseguiu dormir, se Ă© que conseguiu por muito tempo, com os chutes que Francisco te deu durante a noite.
Assim que vocĂȘ fica sentada na cama, o sentimento de azia vem do seu estĂŽmago atĂ© sua boca, ao lembrar da briga que a esposa do seu tio proporcionou ontem Ă noite.
TĂŁo logo acabou a leitura, ela começou a gritar e xingar vocĂȘ e sua mĂŁe, falando que aquilo tudo era uma palhaçada, que os filhos dela e seu marido tambĂ©m tinham direito Ă herança e que vocĂȘs duas queriam tomar tudo deles.
Aquilo era de uma loucura sem tamanho, porque, pelo que se lembra, sua mĂŁe recebeu uma parte idĂȘntica Ă do seu tio, que vocĂȘs nem sabem ainda quando Ă©, e, o pior, vocĂȘ foi prejudicada no testamento, recebendo um bem de valor inferior aos seus primos. Se fosse para alguĂ©m ficar chateado, seria vocĂȘ.
Duzentos mil reais bem que te resolveriam bastante coisa da sua vida. Parece que quando a pessoa mais tem, mais ela quer, ela nĂŁo vĂȘ que os filhos dela receberam R$ 600.000 no total, e vocĂȘ apenas uma caminhonete D20?
VocĂȘ olha no quarto e vĂȘ que sua mĂŁe jĂĄ acordou e jĂĄ saiu do quarto, deve jĂĄ ter ido tomar cafĂ©. EntĂŁo vocĂȘ se lembra de como seu avĂŽ ficava brigando com vocĂȘ porque vocĂȘ era a Ășltima a acordar, certas manias nĂŁo mudam. Poxa, Ă© domingo, vocĂȘ tem o direito de acordar mais tarde. VocĂȘ entĂŁo vai ao banheiro, faz a sua higiene e acorda Francisco, manda ele se trocar e ir escovar os dentes, e, depois, vocĂȘs vĂŁo os dois para a cozinha.
A casa do seu avĂŽ no sĂtio foi construĂda em estilo colonial, uma grande sala conjugada com uma cozinha ainda maior, rodeada de 5 quartos com suĂte em volta. Toda a construção e mobĂlia remetiam Ă solidez, com os mĂłveis de madeira maciça escura, as paredes de tijolo aparente envernizado e as janelas e portas de tamanho maior do que o normal.
Certamente, quem planejou aquela casa imaginou que o lugar preferido para as pessoas conversarem seria a cozinha, pois ela era o centro de toda a casa.
Assim que chega na cozinha com o Francisco, vocĂȘ encontra sua mĂŁe conversando com a dona Maria, que Ă© a cozinheira da casa. Ela Ă© esposa de um dos outros funcionĂĄrios que tambĂ©m trabalha lĂĄ. Ă uma mulher forte e vigorosa, mesmo com seus cerca de 50 anos. Ela tem aquele tipo de pele de gente que trabalhou por muito tempo na roça, um pouco mais enrugada do que seria de se esperar, de um tom castanho escuro. Desde pequena, ela sempre foi extremamente gentil e amĂĄvel com vocĂȘ. Mesmo diante de qualquer dificuldade, ela sempre lhe deu uma palavra carinhosa e sempre queria lhe agradar fazendo seus doces preferidos. Mas hoje estĂĄ diferente, dĂĄ para ver na cara dela que o baque da morte do seu avĂŽ foi muito pesado tambĂ©m para ela.
Assim que ela te viu, contudo, enxugou suas lĂĄgrimas e te recebe de um jeito carinhoso:
â Ah, a minha patroinha acordou, finalmente, vou passar agora o seu cafĂ©, Ă© tudo plantado aqui na cidade mesmo, como vocĂȘ gosta. Esse ano a plantação do Nho Bento foi uma beleza, pegue biscoito de polvilho que eu fiz, eu fiz pĂŁo caseiro ontem tambĂ©m quando soube que vocĂȘs vinham. Tem queijo tambĂ©m aĂ na mesa, eu que fiz na semana passada.
NĂŁo dava para negar, vocĂȘ estava com saudade daquela hospitalidade, daquela comida caseira que sĂł ela sabia fazer. Ainda fogĂŁo, ela começou a conversar com Francisco:
â E vocĂȘ, meu pequeno, quer leite com Nescau?
â Quero tia.
Sua mĂŁe entĂŁo fala:
â Deixa que eu faço, Maria, vou ter que ferver o leite, o leite de vocĂȘs Ă© mais forte.
â Mais forte nĂŁo, nĂ©? Ă o leite de verdade quando tiramos da vaca, o menino tirou hoje de manhĂŁ.
â Pois Ă©, a gente da cidade que nĂŁo estĂĄ acostumado a comer as coisas de verdade.
â Que Ă© isso, mamĂŁe?
â Ă biscoito de polvilho, Francisco, quer um?
â Quero mamĂŁe.
Dona Maria terminou o café e veio com um bule ainda fervendo:
â Prontinho, minha patroa.
â MamĂŁe, por que ela te chama de patrona?
â Rs, rs, nĂŁo, Francisco, Ă© patroa, desde que eu era pequena ela me chama assim, Ă© uma brincadeira dela.
Dona Maria olha vocĂȘ com cara de dĂșvida, mas explica:
â Ara, brincadeira mais ou menos, nĂ©, Juliana? Seu avĂŽ sempre falou que vocĂȘ que ia ficar com toda a herança dele, portanto, no futuro, vocĂȘ seria minha patroa mesmo. NĂŁo foi isso que foi falado na leitura do testamento ontem?
VocĂȘ entĂŁo se lembra de que ela nĂŁo estava no testamento ontem. Sua mĂŁe entĂŁo disse:
â Mas isso Ă© coisa de antigamente, Maria. O advogado dele disse que ele tinha feito muitos maus negĂłcios ultimamente e que ele jĂĄ tinha perdido quase todo o patrimĂŽnio.
Maria olha com cara de espanto:
â Ara, isso Ă© conversa, ultimamente Ă© que seu vĂŽ estava fazendo os melhores negĂłcios, vinha gente de fora negociar as plantaçÔes dele, nĂŁo sĂł dessa fazenda, mas como das outras.
VocĂȘ e sua mĂŁe se olham, tem algo estranho nessa histĂłria. Mas sua mĂŁe Ă© orgulhosa e replica:
â Bom, enfim, no testamento ele deixou sĂł a D20 para a Juliana, e todo o dinheiro para os outros netos dele.
â Ara, que essa histĂłria estĂĄ muito estranha, seu avĂŽ tinha as manias dele, mas atĂ© pouco tempo antes de morrer, ele falou que iria deixar tudo que fosse importante para vocĂȘ, melhor vocĂȘ ver isso direito.
Como o advogado disse ontem, vocĂȘ sabe que seu avĂŽ somente poderia escolher quem receberia atĂ© o total de 50% do patrimĂŽnio dele, o restante nĂŁo. Mesmo vocĂȘ sendo advogada tributĂĄria, vocĂȘ lembra disso das aulas de Direito Civil.
Ă claro que, como vocĂȘ bem sabe, sempre existem manobras para contornar essa regra. Mas serĂĄ que seu avĂŽ sabia fazer isso? Bom, nĂŁo Ă© hora nem lugar para ficar pensando nisso, melhor pensar em aproveitar o Ășltimo dia na fazenda e depois arrumar as coisas para voltar para a cidade grande. VocĂȘ pergunta com animação:
â Francisco, vamos Ă cachoeira?
â Vamos, ele responde animado.
Maria ainda complementa:
â Isso, vĂŁo para Cachoeira enquanto eu preparo o almoço para vocĂȘs. VocĂȘs vĂŁo almoçar antes de sair, nĂ©?
â Vamos, sim.
â SĂł cuidado com o caminho, pois choveu muito lĂĄ para a mata esses dias, melhor vocĂȘs irem com a picape.
SĂł que aĂ vocĂȘ se lembra que a picape tem cĂąmbio manual, e faz anos que vocĂȘ nĂŁo dirige carro com cĂąmbio manual, fora que vocĂȘ tambĂ©m nĂŁo sabe dirigir em estrada de terra com lama, entĂŁo vocĂȘ pergunta:
â SerĂĄ que o Carlinhos pode levar a gente?
â Ara, eu ia falar justamente para vocĂȘ pedir isso, ele deve estar lĂĄ dentro do escritĂłrio com o senhor Waldomiro.
Waldomiro Ă© o pai do Carlinhos e o gerente da fazenda do seu avĂŽ hĂĄ tanto tempo que vocĂȘ nem se lembra quando. Talvez seu pai ainda fosse vivo quando ele começou a ser gerente do seu avĂŽ. Ele Ă© um caboclo alto, jĂĄ com seus cabelos brancos, de feição dura e sĂ©ria, de palavras firmes e diretas. No testamento do seu avĂŽ, ele tambĂ©m foi contemplado com uma parte da herança, quer dizer, depende. Seu avĂŽ deixou vĂĄrias regras estranhas do testamento dele. No caso do Waldomiro, o testamento falava que, se a empresa para a qual ele havia perdido quase todos os bens viesse a pedir o sĂtio, o sĂtio seria todo da empresa, mas se ela demorasse mais de trĂȘs meses para fazer isso, metade da fazenda iria para o Waldomiro e sua famĂlia, e se a empresa demorasse mais trĂȘs meses ainda, aquele sĂtio seria integralmente da famĂlia do Waldomiro.
Desde ontem vocĂȘ tem pensado nessa regra, para vocĂȘ nĂŁo faz muito sentido. Se o bem jĂĄ fosse da empresa, nĂŁo seriam seis meses que alterariam isso. E se nĂŁo fosse, ela nĂŁo poderia reivindicar nada, ainda mais com menos de trĂȘs meses. Para vocĂȘ aquilo sĂł poderia ter sido feito se jĂĄ houvesse um contrato escrito entre a fazenda e o seu avĂŽ, mas vocĂȘ nĂŁo Ă© advogada especialista nisso.
Enfim, o advogado do seu avĂŽ que lute para tentar fazer cumprir essas regras. Mas o fato Ă© que isso deixou todo mundo apreensivo, pois todos esperavam que ele fosse dividir o sĂtio metade para seus herdeiros e a outra metade para o Waldomido e sua famĂlia. Mas o pior mesmo Ă© que ninguĂ©m sabia que empresa era essa, seu dono, nada.
Aquela notĂcia bombĂĄstica ontem tinha deixado a todos embasbacados. Pelo visto, a surpresa ainda se fazia presente para o administrador, pois, assim que entrou no escritĂłrio, o encontrou com uma cara de surpresa de quem agora sabia que tudo haveria de ser diferente daquilo que imaginava.
VocĂȘ encontra Carlinhos sentado de frente para o administrador. Assim que vocĂȘ abre a porta, ele te vĂȘ, dĂĄ um sorriso e pergunta:
â Oi, Ju, bom dia, posso te ajudar?
VocĂȘ vĂȘ o seu rosto, dĂĄ um sorriso involuntĂĄrio e diz:
â Oi, Carlinhos, eu e o Francisco queremos ir Ă cachoeira, serĂĄ que vocĂȘ pode nos levar?
Ele olha para o seu pai e pergunta:
â Vai precisar de mim para alguma coisa, pai?
Waldomiro faz aquela cara de sério dele e responde:
â NĂŁo, nĂŁo, pode ir com ela, ajuste-a no que for preciso.
VocĂȘ vĂȘ ele dar um pulo da cadeira, tirar o seu chapĂ©u de cima da mesa e colocĂĄ-lo em seu cabelo encaracolado, falando: "Agora podemos ir."
VocĂȘs chegam Ă cozinha onde estĂĄ o Francisco terminando o seu cafĂ© e, mal passam a porta, a Maria jĂĄ grita:
â VocĂȘ cuidado, hein, menino!
â O que? Ta doida dona Maria?
â Ara, moleque â ela pega o pano de prato que estĂĄ em seu ombro e o utiliza para dar uma chicotada nas costas do Carlinhos, que responde:
â Ai, cara...
â Olhe, mais respeito, e mais respeito tambĂ©m com a Dona Juliana, sua patroinha agora.
â EstĂĄ falando do que, dona Maria? Eu sempre tive respeito por ela? O fogĂŁo fritou o seu cĂ©rebro?
â Respeito comigo, moleque, senĂŁo vai levar outra. VocĂȘ entendeu, vĂȘ se nĂŁo vai ficar de graça com a Juliana igual vocĂȘs ficavam quando eram molecotes.
â Que Ă© isso, dona Maria?
â Ah, e eu nĂŁo sei que vocĂȘs conheceram todos os matinhos em volta dessa casa?
VocĂȘ fica vermelha na hora, ela falar isso te remeteu a quando vocĂȘ tinha 17 ou 18 anos. Ă, aquela Ă©poca que vocĂȘ tinha outros motivos para visitar seu avĂŽ, alĂ©m de seu prĂłprio avĂŽ, antes de vocĂȘ conhecer o traste do pai do Francisco.
â Oxe, dona Maria, nĂŁo sei do que tu tĂĄ falando, melhor continuar no seu fogĂŁo.
â Sei, viu.
â MamĂŁe, vocĂȘs ficavam caçando frutinha atrĂĄs dos matinhos?
â AĂ, dona Maria, explica agora â e, dizendo isso, ele sai da cozinha com a chave da picape na mĂŁo.
â Ă, Francisco, mamĂŁe ficava brincando de caçar frutinhas.
Sua mĂŁe balança a cabeça em sinal negativo, vocĂȘ abre os braços como quem diz: vou fazer o quĂȘ? VocĂȘ pega seu celular na mesa e fala:
â Vamos, Francisco, se nĂŁo fica tarde.
â EstĂĄ bem, mamĂŁe.
VocĂȘ desce com o Francisco atĂ© a garagem e encontra Carlinhos ao lado do carro, esperando por vocĂȘs.
NĂŁo dĂĄ para negar, vocĂȘ tinha uma quedinha por ele. Mas era um sentimento estranho, que misturava amizade com curiosidade e aquela sensação de estar fazendo uma coisa proibida.
Quando vocĂȘ completou 17 e ele, ainda com 15, mas jĂĄ com tamanho de homem feito, começou a perceber que ele te olhava diferente, daĂ para darem o primeiro beijo de vocĂȘs foi bem rĂĄpido. E nĂŁo, vocĂȘs nĂŁo ficavam frequentando matinhos com a regularidade que a dona Maria falou, se bem que, se dependesse dele, vocĂȘs iam para o matinho toda hora.
Pouco tempo depois, vocĂȘ conheceu o pai do Francisco e começou a nĂŁo ir mais para o sĂtio, para sair com ele, atĂ© que aconteceu de vocĂȘ se perceber grĂĄvida, no Ășltimo ano do ensino mĂ©dio. Graças a Deus que vocĂȘ conseguiu passar na faculdade de primeira e trancar o primeiro semestre por causa da gravidez, se bem que esta foi a Ășnica parte boa, porque seu casamento repentino foi uma verdadeira lĂĄstima.
Agora, vocĂȘ o olhando novamente, percebe que nĂŁo estava errada, ele Ă© mesmo um rapaz muito bonito. NĂŁo Ă© tĂŁo alto e forte quanto o Dr. Tiago, mas possui um corpo de um fazendeiro de verdade, com os braços fortes moldados pelo trabalho duro, aquele chapĂ©u de vaqueiro com estufas encaracoladas em volta fica muito engraçado.
VocĂȘ sorri e sorri de volta, mostrando dentes perfeitos. Seu rosto nĂŁo possui qualquer fiozinho de barba ou bigode, o que deixa em realce sua boca de um tom marrom escuro, bem grossa, mas Ă© melhor nĂŁo pensar na boca dele, Ă© melhor nĂŁo pensar em mais nada.
VocĂȘ e Francisco entram no carro e se dirigem Ă cachoeira. VocĂȘ agradece o fato de Carlinhos estar dirigindo, pois vocĂȘ nĂŁo se lembrava do caminho, era bem fĂĄcil ter se perdido por aĂ.
VocĂȘs trocam a amenidade no caminho, comentando sobre como o testamento do seu avĂŽ estava confuso, e sobre a empresa que ficou com a maior parte dos bens dele. Aparentemente, eles tambĂ©m nĂŁo estavam sabendo de nada disso, pelo contrĂĄrio, ele tambĂ©m confirmou que as plantaçÔes estavam indo muito bem. EntĂŁo vocĂȘ pergunta:
â E a Ritinha, como vai?
â Terminamos. Faz um tempinho. Agora estou solteiro.
â Ah, entĂŁo agora vocĂȘ estĂĄ curtindo as menininhas do interior?
â Ă difĂcil curtir com outra mulher quando seu coração jĂĄ tem dona.
VocĂȘ nĂŁo comenta mais nada sobre isso. VocĂȘs chegam Ă cachoeira. O Francisco quer logo se trocar para entrar na ĂĄgua, vocĂȘ o troca e em dois segundos ele pula no riacho de ĂĄguas calmas que se forma apĂłs a cachoeira. E entĂŁo ele fica pedindo:
â Vem vocĂȘ tambĂ©m, mamĂŁe.
âEu nĂŁo posso, Francisco, eu nĂŁo estou de biquĂni.
Passa perto de um minuto:
â Vem, mamĂŁe.
â NĂŁo posso, Francisco, jĂĄ te disse.
Até que, para sua surpresa, o Carlinhos diz:
â Pois o Tio Carlinhos vai entrar com vocĂȘ.
â Eee, vem tio Carlinhos.
E entĂŁo ele tira a camisa de manga curta xadrez vermelha que usava, tira suas botas, seu chapĂ©u e fica sĂł de bermuda jeans. VocĂȘ nĂŁo tem como evitar ficar reparando em seu fĂsico enquanto ele tira sua camisa, vocĂȘ vĂȘ que, apesar de magro, ele tem os mĂșsculos bem definidos, refletidos naquela pele castanho-claro. Ele percebe vocĂȘ olhando e fica brincando, fazendo pose como quem estivesse fazendo striptease, vocĂȘ ri, mas continua olhando.
Ele e Francisco ficam fazendo uma bagunça naquele lago, um jogando ågua no outro, brincando de mergulhar, de ver quem fica mais tempo debaixo d'ågua, até que Francisco fala que estå com sono.
VocĂȘ Ă© rĂĄpida e o troca e seca em pouco tempo, logo ele começa a dormir e vocĂȘ o deixa deitado no banco da D20, com as portas fechadas, mas as janelas abertas, enquanto Carlinhos se seca. Ele começa:
- NĂŁo quer entrar na ĂĄgua mesmo? VocĂȘ estĂĄ vermelha, parece estar com calor.
- Estou um pouco sim, mas nĂŁo vou entrar.
- Pois isso Ă© injusto.
- O que?
- Eu estou quase todo despido e vocĂȘ estĂĄ de roupa.
NĂŁo era bem verdade, vocĂȘ estava sĂł com um top curto e um shorts curto e largo, nĂŁo dava para falar que vocĂȘ estivesse com muita roupa tambĂ©m. Ele falou:
- Sabe no que eu estava pensando, noutro dia?
- No que?
- Naquele dia em que eu te dei meu primeiro beijo.
VocĂȘ se lembra e dĂĄ risada, aquele dia foi um tanto comum para vocĂȘ. Aos 17, vocĂȘ jĂĄ tinha beijado antes, vocĂȘ sĂł nĂŁo sabia que aquele era o primeiro beijo dele, o que faz sentido, pois ele tinha sĂł 15 anos.
- Haha, eu lembro, foi em uma brincadeira de salada mista em uma festa junina.
- Por que vocĂȘ estĂĄ rindo? Eu era apaixonado por vocĂȘ, aquele foi o melhor dia da minha vida atĂ© entĂŁo.
- Até então?
- AtĂ© que eu fui experimentando outras coisas com vocĂȘ.
- Haha, Ă©, a gente gostava de experimentar.
- Nem me fale, a Dona Maria falou dos matinhos, mas ele nĂŁo sabe dos outros lugares.
- Para.
- Para, por quĂȘ? VocĂȘ tem vergonha?
- Um pouco.
- Se eu soubesse que de um dia para o outro vocĂȘ pararia de vir, eu teria aproveitado vocĂȘ mais, aĂ sim conhecerĂamos todos os matinhos do sĂtio.
- Para, estĂĄ me deixando com vergonha.
- Eu fiquei com tanta saudade de vocĂȘ.
- E aĂ encontrou a Ritinha.
- A Ritinha Ă© uma boa moça, mas nunca se comparou a vocĂȘ.
Ele se senta ao seu lado, ele ainda estĂĄ gelado da ĂĄgua. VocĂȘ pode sentir a pele dele fria em contato com a sua, quente, pegando fogo. Ele coloca sua camisa atrĂĄs de vocĂȘ e fala:
- VocĂȘ nĂŁo estĂĄ com calor mesmo?
- Um pouco.
- Tira o top, entĂŁo.
- Eu nĂŁo sou mais aquela adolescente de 18 anos, eu jĂĄ tive um filho, nĂŁo vai gostar do que vai ver...
- Para mim, vocĂȘ continua maravilhosa, vai, tira.
Ele pede com olhar de cachorrinho pidoncho.
- Mas e o Francisco?
- Ele estĂĄ dormindo feito pedra e a caminhonete estĂĄ longe de onde estamos.
VocĂȘ bufa como quem quer resistir, mas acaba cedendo ao pedido dele, e fica sĂł de sutiĂŁ e com o shorts largo. Ele sequer espera vocĂȘ colocar o top na grama e avança sobre sua boca em um apetite voraz, te forçando a deitar sobre a camiseta dele.
Ao deitar, vocĂȘ sente o cheiro dele. Aquele cheiro te faz ficar com tesĂŁo imediato. E, droga, vocĂȘ estĂĄ com tesĂŁo acumulado desde sexta, quando ficou imaginando besteira na sala do Dr. Tiago. SerĂĄ que Ă© errado aliviar seu tesĂŁo acumulado com o Carlinhos pensando nele?
Como aquele menino beija bem. SerĂĄ que ele sempre soube beijar assim ou Ă© vocĂȘ que nĂŁo estĂĄ se aguentando de vontade? NĂŁo dĂĄ para saber, talvez um pouco dos dois, como quando comemos com fome e a comida parece mais gostosa, bem mais apetitosa, e suculenta, deixando vocĂȘ com ĂĄgua na boca, e que boca.
VocĂȘ envolve suas mĂŁos naquele cabelo encaracolado e ele sobe o seu sutiĂŁ em um sĂł movimento, tendo acesso aos seus seios, que ele se lambuza, mordisca e suga com delicadeza. Ele te coloca deitada de lado, ficando atrĂĄs de vocĂȘ, e começa a beijar suas costas, subindo desde a base atĂ© a nuca.
Caramba, aquilo era injusto, parecia que ele tinha um manual de instruçÔes do seu corpo e seguia Ă risca tudo o que estava escrito, passando por todas as suas zonas erĂłgenas, parando e se concentrando nas partes que vocĂȘ mais gostava. Seu corpo reagia a cada toque dele, te dando sensaçÔes e quenturas que vocĂȘ hĂĄ muito tempo nĂŁo sentia, atĂ© o momento em que uma das mĂŁos dele te forçou a afastar um pouco as pernas e entrou por dentro do shorts, ficando em cima de sua calcinha, que jĂĄ estava ensopada.
Como Ă© bom ter esses momentos com quem te conhece, sabe da intensidade que vocĂȘ gosta, sabe onde arrancar faĂscas do seu corpo, sabe como provocar aquela sensação de frio misturado com calor, arrepio misturado com desejo, dor com prazer.
Seu corpo era um instrumento em suas mĂŁos; ele, um violeiro experiente, sabia tirar notas e acordes Ășnicos daquela viola em seu colo. O jeito firme que ele segurava as cordas com a mĂŁo esquerda enquanto dedilhava com a mĂŁo direita, tocando uma musica em ritmo cadenciado, alcançando acordes que hĂĄ muito tempo vocĂȘ nĂŁo ouvia.
O violĂŁo reagia de imediato Ă s notas que ele tocava.
Sua mente estĂĄ em branco, totalmente em branco, apenas apreciando a mĂșsica.
Ele, compenetrado em seu trabalho, se dedicava à tarefa com determinação,
Sol
Mi
A viola gemendo:-Hann
FĂĄ maior
RĂ©.
VocĂȘ guia seus dedos para onde quer sentĂ-lo. O dedilhado, mantendo o ritmo cadenciado e harmĂŽnico.
- haeee
ResiliĂȘncia, persistĂȘncia no ritmo.
- aeee
VocĂȘ quer participar da mĂșsica e procura afoita o zĂper de sua bermuda jeans para retribuir. VocĂȘ tambĂ©m o conhece, Ă© claro.
Os sons da viola se misturam ao som do violeiro.
- aaa
A mĂșsica muda sua melodia e passa para um ritmo mais rĂĄpido.
- aee
- aaa
Era uma profusĂŁo de sons, onde era impossĂvel identificar de onde vinha cada um.
AtĂ© que vem o som definitivo, alto, peremptĂłrio, Ășnico, se fez ouvir por todo lado:
-MamĂŁe
E a musica Ă© imediatamente interrompida antes de chegar ao seu fim.