CapĂtulo I
CapĂtulo I
Ă uma verdade universalmente reconhecida que um homem solteiro, possuidor de uma boa fortuna, necessita de uma esposa.
PorĂ©m, por mais desconhecidos que sejam os sentimentos e opiniĂ”es de tal homem ao chegar a uma nova vizinhança, essa verdade estĂĄ tĂŁo firmemente enraizada nas mentes das famĂlias circundantes que ele Ă© considerado propriedade legĂtima de uma ou outra de suas filhas.
â Meu querido Sr. Bennet â disse-lhe a esposa, um dia â, soube que Netherfield Park foi finalmente alugado?
O Sr. Bennet respondeu que nĂŁo.
â Mas foi â retorquiu ela â, pois a Sra. Long acaba de me contar tudo a respeito.
O Sr. Bennet nĂŁo respondeu.
â NĂŁo quer saber quem o alugou? â exclamou a esposa, impaciente.
â _VocĂȘ_ quer me contar, e nĂŁo me oponho a ouvir.
[Ilustração:
"Ele veio ver o lugar"
[_Copyright 1894 by George Allen._]]
Este foi incentivo suficiente.
â Ora, meu caro, a Sra. Long diz que Netherfield foi alugado por um jovem riquĂssimo, vindo do norte da Inglaterra; que ele veio na segunda-feira numa carruagem puxada por quatro cavalos para ver a propriedade, e ficou tĂŁo encantado que fez negĂłcio com o Sr. Morris de imediato; que ele deve tomar posse antes do Michaelmas, e alguns dos seus criados estarĂŁo na casa jĂĄ no final da prĂłxima semana.
â Qual Ă© o nome dele?
â Bingley.
â Ă casado ou solteiro?
â Oh, solteiro, meu querido, com certeza! Um homem solteiro e riquĂssimo; quatro ou cinco mil libras por ano. Que bĂȘnção para as nossas filhas!
â Como assim? Como isso pode afetĂĄ-las?
â Meu querido Sr. Bennet â respondeu a esposa â, como pode ser tĂŁo ingĂ©nuo? EstĂĄ claro que estou a pensar em casar uma delas com ele.
â Ă esse o objetivo dele ao instalar-se aqui?
â Objetivo? Bobagens, como pode dizer tal coisa! Mas Ă© muito provĂĄvel que ele _possa_ se apaixonar por uma delas e, portanto, deve visitĂĄ-lo assim que ele chegar.
â NĂŁo vejo necessidade disso. VocĂȘ e as meninas podem ir â ou pode mandĂĄ-las sozinhas, o que talvez seja ainda melhor; pois, como vocĂȘ Ă© tĂŁo bonita quanto qualquer uma delas, o Sr. Bingley pode gostar mais de vocĂȘ do que do resto.
â Meu querido, estĂĄ a lisonjear-me. Eu certamente _tive_ a minha beleza, mas nĂŁo pretendo ser nada de extraordinĂĄrio agora. Quando uma mulher tem cinco filhas casadouras, deve parar de pensar na sua prĂłpria beleza.
â Nesses casos, uma mulher frequentemente nĂŁo tem grande beleza em que pensar.
â Mas, meu querido, deve mesmo ir ver o Sr. Bingley quando ele chegar Ă vizinhança.
â Ă mais do que me comprometo a fazer, garanto-lhe.
â Mas pense nas suas filhas. Imagine que bom partido seria para uma delas. Sir William e Lady Lucas estĂŁo determinados a ir, sĂł por isso; pois, em geral, sabe, eles nĂŁo visitam recĂ©m-chegados. De facto, deve ir, pois serĂĄ impossĂvel para _nĂłs_ visitĂĄ-lo se nĂŁo for.
â VocĂȘ Ă© excessivamente escrupulosa, sem dĂșvida. Atrevo-me a dizer que o Sr. Bingley ficarĂĄ muito feliz em vĂȘ-la; e eu enviarei umas linhas por si para assegurar-lhe o meu sincero consentimento para que ele se case com quem ele escolher das meninas â embora eu deva interceder pela minha pequena Lizzy.
â Exijo que nĂŁo faça tal coisa. Lizzy nĂŁo Ă© minimamente melhor que as outras: e tenho a certeza de que nĂŁo Ă© nem metade tĂŁo bonita quanto Jane, nem metade tĂŁo bem-humorada quanto Lydia. Mas vocĂȘ estĂĄ sempre a dar _a ela_ a preferĂȘncia.
â Nenhuma delas tem muito que as recomende â respondeu ele â: sĂŁo todas tolas e ignorantes como outras raparigas; mas Lizzy tem algo mais de vivacidade do que as irmĂŁs.
â Sr. Bennet, como pode insultar os seus prĂłprios filhos dessa maneira? Tem prazer em irritar-me. NĂŁo tem compaixĂŁo dos meus pobres nervos.
â VocĂȘ me entende mal, minha querida. Tenho um grande respeito pelos seus nervos. SĂŁo meus velhos amigos. Ouço-a mencionĂĄ-los com consideração hĂĄ vinte anos, pelo menos.
â Ah, vocĂȘ nĂŁo sabe o que eu sofro.
â Mas espero que supere isso e viva para ver muitos jovens com quatro mil libras por ano chegarem Ă vizinhança.
â De nada nos servirĂĄ, se vinte deles vierem, jĂĄ que nĂŁo os visita.
â Pode ter a certeza, minha querida, que quando houver vinte, visitĂĄ-los-ei a todos.
O Sr. Bennet era uma mistura tĂŁo peculiar de inteligĂȘncia rĂĄpida, humor sarcĂĄstico, reserva e capricho, que a experiĂȘncia de vinte e trĂȘs anos tinha sido insuficiente para que a esposa compreendesse o seu carĂĄter. A mente _dela_ era menos difĂcil de decifrar. Era uma mulher de compreensĂŁo medĂocre, pouca instrução e temperamento instĂĄvel. Quando estava descontente, imaginava-se nervosa. O propĂłsito da sua vida era casar as filhas: o seu consolo era visitar e saber das novidades.